domingo, 12 de abril de 2009

Reformulação da identidade regional (ou: o fim do "campo-grandismo"?)

Estou trabalhando em um projeto de história oral com estrangeiros vivendo em Roraima, cujo título provisório é Vida Internacional – Relatos de vivência pessoal de estrangeiros. Acabei conhecendo uma professora do curso de História, Profª. Carla, que trabalhou com migrações e história oral no seu doutorado. Enquanto conversávamos sobre o projeto, ela me disse que é comum o imigrante reformular sua identidade, sua relação com os mitos fundacionais da sua região de origem. Ela comentou o caso dos gaúchos em Roraima (sim, existem gaúchos em Roraima! Existe até um Centro de Tradições Gaúchas bem grande!). Disse já ter ouvido relatos de gaúchos reconhecendo que, quando viviam no Rio Grande do Sul, achavam uma chatice esse negócio de ir ao CTG e que depois que vieram para Roraima tornaram-se admiradores da cultura gaúcha a ponto de participarem de grupos de dança folclórica!
Me reconheci um pouco nessa situação. Nunca fui muito de ser entusiasta da cultura regional sul-mato-grossense (embora sempre tenha sido um admirador de qualquer cultura). Aí, de repente, o fato de estar longe me transforma num babão! Fico cantando em verso e prosa as maravilhas da cultura do MS! O blog é a maior prova disso: já falei sobre a música do Almir Sáter, sobre o grupo Ginga. Aqui com as pessoas, falo sobre como o peixe é preparado em Campo Grande, como o escabeche de Corumbá e mais gostoso que o escabeche daqui, como a costelinha de pacu é uma iguaria única. Digo que o sobá da feira é uma invenção da culinária nipo-campo-grandense, que não existe em nenhum outro lugar. Que Campo Grande tem uma colônia japonesa muito grande. Digo que também existem índios em Campo Grande. Que lá está a maior aldeia urbana do Brasil. Etc., etc., etc., que eu mesmo já me cansei de tanto bairrismo. E justo eu, que pensava que o contrário de ufanismo fosse “campo-grandismo” (mania de ficar achando que tudo de Campo Grande é ruim...).