quinta-feira, 30 de abril de 2009

Faroeste caboclo

Aparentemente, era apenas mais uma tarde de sol impiedoso. Los tres amigos, Juán, Tiago y Julia, rumavam para aquele pequeno oásis de ar condicionado, chocolate gelado e tapioca, sem imaginar o que os esperava. Adentraram o saloon, sem se preocuparem com o ruído de suas botas e suas esporas. Acomodaram-se amplamente numa mesa limpa. Uma mesa exageradamente asséptica. Uma mesinha frozô demais! Blergh! “Já não se fazem mais espeluncas como antigamente, compadre John”, disse Julia. O execrável Tiago concordou com uma gargalhada que deixava à mostra seus dentes apodrecidos e espalhava seu mau-hálito por todo o Café Expresso. Estava claro que havia uma tensão entre os três. Qualquer coisa seria um pretexto para um duelo. Mas eles não podiam imaginar que havia ali um tesouro em troca do qual eles dariam todo o ouro que carregavam com eles.
A um abrir da porta, um vento adentrou o recinto, alcançou o balcão e foi sacudir as folhas novas, exageradamente fresquinhas, de uma edição da... FOLHA DE S. PAULO do dia! Sim, leitor, não era uma Folha de S. Paulo do dia anterior, nem de dois dias anteriores, como era possível comprar nas bancas de Boa Vista. Era uma edição do dia, que certamente fora trazida por algum forasteiro recém-chegado à cidade por meio de algum transporte aéreo moderno, exageradamente moderno! Argh!
Com o farfalhar das preciosas folhas sobre o balcão, los tres amigos se entreolharam, querendo crer que os outros dois não tivessem notado a presença do desejado símbolo de modernidade e preciosa fonte de informação e entretenimento. Qual dentre eles leria primeiro a Ilustrada? Qual poderia folhear primeiro a seção Opinião? Como por obra de uma conjuração do Universo, o rádio tocou uma majestosa trilha de Enio Moricone.
Juán tentou um golpe de suposta ingenuidade: “Comadrezita Julia” - ele disse, sabendo o quanto ela detestava ser chamada de “comadrezita” - “alcance o jornal que está sobre o balcão”... Ela trincou os dentes. Ele concluiu pausadamente: “por favor... Ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha!” Juán e Tiago gargalharam com o irritável gesto de polidez!

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Foi mais ou menos isso que aconteceu ontem. Mas passada a tensão inicial, os três puderam ler a Folha de S. Paulo toda, sem maiores incidentes.

De qualquer forma, essa é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com personagens ou circunstâncias reais é meeera coincidência.

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Eu estou tentando recuperar o tempo perdido nas últimas semanas, então vou fazer hoje um resumo dos principais acontecimentos. Em primeiro lugar, eu não podia deixar de mencionar o sucesso da segunda temporada do espetáculo de teatro-esporte-improvisação TPM – Todas Pela Medalha (foto), com direção de Carol Araújo, em Campo Grande, no projeto SESC Em Cena. Eu que já tive a honra de ser o apresentador desse espetáculo, fiquei muito feliz de saber que o público compareceu em peso. Com o já diria Cacilda Becker, “teatro cheio renova as esperanças”.

Também aqui em Boa Vista, e também no SESC, assisti esses tempos atrás à comédia De malas prontas, da Cia Pé de Vento, de Santa Catarina. Sinopso (é “sinopso” mesmo, primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo “sinopsar” que eu acabei de inventar): duas mulheres perdem o vôo e são obrigadas a conviver num banco de aeroporto durante algumas horas. Basicamente, é isso. O espetáculo ressalta, pela ausência de falas, a fantástica capacidade expressiva do corpo humano, com grande efeito humorístico. Logo no início, lembrei da abertura do filme "O Baile", de Ettore Scola. As duas atrizes entram pela platéia, com uma trilha sonora, e apresentam seus personagens, como no filme do genial diretor italiano. O espetáculo traz também uma releitura de números clássicos de circo, muito criativa: atiram-se facas, prende-se uma mulher dentro de uma câmara onde se enfiam espadas.

Tive a impressão de que a peça traz uma leitura marxista do mundo: as duas pequeno-burguesas, vítimas da alienação do capitalismo, são incapazes de se comunicarem. Presas em seus individualismos e presas ao fetiche dos itens de consumo (entre eles, a viagem ao exterior), acirram sua disputa de interesses, metaforizando a guerra das grandes potências imperialistas pelo “espaço vital”. Um retrato da barbárie que, segundo Marx, seria intrínseca ao capitalismo. Talvez eu esteja vendo chifre em cabeça de cavalo (ou “barba em rosto de Liberal”). Talvez seja só uma crítica bem humorada da incapacidade do homem contemporâneo de se comunicar e de cooperar para alcançar o bem comum. Assim como dá para ver elementos marxistas, dá pra ver também elementos do Realismo e do pós-modernismo.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sobre a brevidade de algumas postagens (ou "Tuuudo junto agora...")

Estou alugando apartamento e comprando carro, os dois ao mesmo tempo. Então é imobiliária, cartório, banco, empresa de energia, volta pra imobiliária, vai pro Detran, volta pro cartório, volta pro banco, e parece que não acaba nunca.

Enquanto isso, na Sala de Justiça... A universidade, insensível, não pára para a gente resolver essas coisas (Não devia parar tudo?)... Aula, prova, projeto, tudo ao mesmo tempo.

Está explicado o post curtinho? Alguma objeção?

domingo, 19 de abril de 2009

Shefetah


Esse é o célebre Shefetah com os seus três filhos.

Fotos




Algumas fotos das fontes no Parque Totozão!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

"Deixe-me ir, preciso andar...

...vou por aí a procurar
rir pra não chorar..."

(da genial canção composta por Candeia e imortalizada nas vozes de Cartola e Marisa Monte)

Hoje saí da Universidade e resolvi voltar a pé para casa. Para minha sorte, o parque Totozão (!!), que fica bem no caminho pra casa, estava com as fontes ligadas. Aproveitei o acaso e fui celebrar o fim da minha semana com um banho de fonte! Um menino que estava lá me disse que a sexta-feira é o melhor dia porque a água ainda está bem limpa. Melhor ainda! Saí com a bermuda molhada e a mochila nas costas.

No caminho, encontrei um legítimo representante da cultura rastafari! Era um guianense chamado Shefeeta, com o cabelão rasta amarrado em volta de uma faixa e uma camiseta com a estampa do Bob Marley, que está em Boa Vista por uma semana para divulgar seus trabalhos manuais. Estava acompanhado dos três filhos pequenos. "You speak proper English", ele me disse. Eu agradeci. O inglês da Guiana não tem um sotaque muito diferente do americano, pelo menos para o meu ouvido destreinado. Só reparei que em um momento, um dos filhos do Shefeeta chamou ele de "dadiko", que deve ser algo como "papaizinho". Estavam catando tamarindos pelas praça no meio da avenida Ene Garcez. "Hum, I like the green ones", disse um dos meninos. Depois o Shefeeta me disse que ele é vice-presidente da associação de artistas manuais da Guiana! Grande Shefeeta!

Me comprometo aqui a postar as fotos do Parque Totozão e dos quatro guianenses! Não percam, no próximo post!

Ah, amanhã vou para o Tepequém, sítio turístico a duas horas de viagem de Boa Vista, com cachoeiras e outras coisas, que eu ainda não sei bem o que é! Depois conto!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Vendo Honda 2004 (ou "Ei! É pra olhar pro cajueiro, macho!")


O cajueiro é uma árvore emblemática de Boa Vista. Tem cajueiros pela cidade inteira, maiores e mais bonitos do que os poucos que eu costumava ver em Campo Grande ou em São Paulo. Parecem ser árvores nativas, que ninguém plantou, bonitas por natureza. Mesmo sem serem cultivados ou adubados, dão uns cajuzões graúdos, que ninguém apanha de tão comuns e que se perdem pisados nas calçadas.

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Sobre a parte do título do post que se presta a explicação: tentei reproduzir a fala macuxi, semelhante a alguns sotaques nordestinos. O uso do "ei" invocativo, o uso do "macho" somo sinônimo de "cara", "mano", "brother", e outros.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Pseudo-foto-geografia


Pensei em dizer que estou fazendo foto-jornalismo, mas achei pretensioso. Achei que colocando o "pseudo" na frente, ficaria mais modesto. Aí desisti de usar "jornalismo" e resolvi trocar por "geografia", porque é uma pseudo-Geografia de Roraima que eu quero fazer: meu interesse não é retratar os acontecimentos cotidianos, como um jornalista faria, mas tentar criar o meu retrato do espaço geográfico roraimense, com aspectos da natureza e das relações sociais.
Essa foto parece ser um morador de rua, feliz proprietário de uma bicicleta que ele aparatou toda para servir de residência. A placa na parte de trás tem a seguinte inscrição (caso não dê para ler): "patrocínio em alimentação / me atenda com boas intenções". A placa parece ter sido impressa em gráfica rápida, o português está correto (se desconsideramos a próclise do "me", que em brasileiro é de uso corrente), e dá até para dizer que houve uma intenção de rima, talvez um artifício para conseguir a simpatia do público. Além disso, há o capacete, a bandeira do Brasil, uma mistura de signos que me pareceu... sofisticada.
Instalação de arte contemporânea? Seria sim, se o local fosse um museu.
Essa discussão surgiu na última Bienal de São Paulo (a 28ª), por ocasião do andar vazio. Um link para a discussão: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u458970.shtml.

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Entre os milhares de e-mails que eu tenho recebido dos leitores do blog, hoje vou selecionar um. A sorteada é... Carolina Araújo, atriz, diretora e funcionária pública, 26 anos, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A Carolina disse que o blog está parecendo mais um blog de culinária, e por isso deu a sugestão engraçadinha de mudar de Brasil Latitude Zero para Brasil Fome Zero. Está anotada a sua sugestão, Carolina Araújo! Um forte abraço!

domingo, 12 de abril de 2009

Reformulação da identidade regional (ou: o fim do "campo-grandismo"?)

Estou trabalhando em um projeto de história oral com estrangeiros vivendo em Roraima, cujo título provisório é Vida Internacional – Relatos de vivência pessoal de estrangeiros. Acabei conhecendo uma professora do curso de História, Profª. Carla, que trabalhou com migrações e história oral no seu doutorado. Enquanto conversávamos sobre o projeto, ela me disse que é comum o imigrante reformular sua identidade, sua relação com os mitos fundacionais da sua região de origem. Ela comentou o caso dos gaúchos em Roraima (sim, existem gaúchos em Roraima! Existe até um Centro de Tradições Gaúchas bem grande!). Disse já ter ouvido relatos de gaúchos reconhecendo que, quando viviam no Rio Grande do Sul, achavam uma chatice esse negócio de ir ao CTG e que depois que vieram para Roraima tornaram-se admiradores da cultura gaúcha a ponto de participarem de grupos de dança folclórica!
Me reconheci um pouco nessa situação. Nunca fui muito de ser entusiasta da cultura regional sul-mato-grossense (embora sempre tenha sido um admirador de qualquer cultura). Aí, de repente, o fato de estar longe me transforma num babão! Fico cantando em verso e prosa as maravilhas da cultura do MS! O blog é a maior prova disso: já falei sobre a música do Almir Sáter, sobre o grupo Ginga. Aqui com as pessoas, falo sobre como o peixe é preparado em Campo Grande, como o escabeche de Corumbá e mais gostoso que o escabeche daqui, como a costelinha de pacu é uma iguaria única. Digo que o sobá da feira é uma invenção da culinária nipo-campo-grandense, que não existe em nenhum outro lugar. Que Campo Grande tem uma colônia japonesa muito grande. Digo que também existem índios em Campo Grande. Que lá está a maior aldeia urbana do Brasil. Etc., etc., etc., que eu mesmo já me cansei de tanto bairrismo. E justo eu, que pensava que o contrário de ufanismo fosse “campo-grandismo” (mania de ficar achando que tudo de Campo Grande é ruim...).

sábado, 11 de abril de 2009

Ainda a culinária



Depois que “cheguei chegando” nos restaurantes e festas de Boa Vista, experimentando tudo quanto era tempero e ingrediente novo, eu estava resolvido a dar uma acalmada, atendendo a pedidos do meu sistema digestivo. O estômago do roraimense é, antes de tudo, um forte. Uma receita típica, para exemplificar: peixe à delícia. Postas de peixe empanado, com molho de creme de leite e azeitona, coberto com queijo e batata palha, acompanhado de banana frita, arroz e farofa e calor de quarenta graus.
Duas outras frustrações, idéias que eu fazia de Boa Vista que se mostraram falsas (entre muitas outras): eu achava que o açaí e a castanha-do-pará seriam de ótima qualidade, fartos e baratos. Infelizmente, não. Existem em grande quantidade e são relativamente fáceis de achar, mas... Conversei hoje com um professor paraense, Luiz Otávio, que também acha que o açaí de Boa Vista não é bom. Segundo ele, o caroço é batido além do ponto, o que produz o que ele chamou de “travo”, uma espécie de fundozinho amargo no sabor. Além disso, fazem o açaí com uma textura muito fina, quase um caldo, diferente do açaí paraense, que fica cremoso, quase um sorvete. A castanha-do-pará é sim abundante, mas não é barata, nem em qualidade superior à encontrada em Campo Grande ou Brasília. Ao contrário, encontra-se para vender a castanha de padrão inferior, tamanho menor do que o “tipo exportação” que vai parar nos mercados das cidades maiores.
Em compensação, para não dizerem que eu estou implicando com tudo, e para inaugurar uma nova etapa no blog: posto a foto do peixe grelhado que se come no Peixe Mania, considerado a melhor peixaria de Boa Vista. Realmente muito gostoso, magrinho, bem passado, com batata sauté, arroz branco, farofa e feijão catador. Se não me engano, é uma dourada (não confundir com o dourado, que a gente encontra na Bacia do Paraná e do Paraguai). No fundo da foto, estão a Profª. Adriane Augusta, da Arquitetura, e a Julia. Ah, a máquina é a digital do meu telefone celular.

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Mais tarde, fui à praia do Rio Branco com o Thiago e a Pilar. Eles ainda não tinham almoçado. Tomamos uma cerveja, conversamos um pouco de bobeira, me contaram sobre outro dia em que tinham visto o boto, e dali a pouco começamos a sentir um cheiro bom de peixe frito. Vinha da barraca da Dona Sebastiana, uma indígena de uns cinqüenta e tantos anos, que estava com toda a família. “A senhora serve um peixinho frito?”. Ela disse que servia por vinte reais. “Vinte reais?” Ela deixou por quinze, acompanhando baião-de-dois, farofa, vinagrete e pimenta. “Essa matrinchã aqui” – e me mostrou o peixe de pouco mais de um palmo de comprimento, dentro do isopor com gelo e que, depois eu descobri, fritinho tem um gosto bem familiar, parecido com o de lambari. Topamos. Era o fim do armistício com o meu sistema digestivo.
Já estava no comecinho da noite. A praia estava pequena porque o rio estava alto. O que acontece quando a praia está pequena? Apareceram os maiores predadores de Roraima. Carapanãs! Fomos carapanizados à queima-roupa. O homem, topo da cadeia alimentar? Nada. O peixe come a alga, o homem come o peixe, o carapanã come o homem.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ainda os quadrinhos

Estou redescobrindo os quadrinhos, graças ao acervo da Julia que fica o tempo todo à minha disposição (o acervo, não a Julia), no mesmo quarto que agora eu chamo de meu. Essa moça que faz questão de se definir como “jornalista”, que trabalhou em um jornal em Franca durante a sua graduação, que estudou a mídia na cobertura da Guerra do Iraque e que está sempre procurando mais formas de interação entre as Relações Internacionais e as artes, essa moça tem uma coleção razoável de quadrinhos adultos. Eu já comentei sobre a série “Buda”, do Osamu Tezuka. Ela tem também alguns exemplares da série “Adolf”, do mesmo Osamu Tezuka, outros do Joe Sacco, como “Palestina – Uma nação ocupada” e “Uma história de Sarajevo”. Também li “Leões de Bagdá”, cujos autores não me lembro, que peguei emprestado de um aluno do terceiro semestre, o Rafael, e que já devolvi (e por isso não tenho como citar o nome dos autores agora). Tenho preferido os quadrinhos ao cinema. E mesmo no cinema, o último filme que fui ver, o único até agora aqui em Boa Vista, foi “Watchmen”, inspirado em quadrinhos.

Breve história da minha relação com os quadrinhos
Eu li quadrinhos durante toda a minha vida. Meus preferidos eram Turma da Mônica quando eu era criança, com ocasionais leituras dos quadrinhos da Disney, e quando entrei na pré-adolescência, X-Men. Meu primeiro contato foi com um especial, “Vingadores versus X-Men”. Aquele bando de heróis mutantes foras-da-lei, que por algum motivo arranjavam uma briga com Capitão América e companhia limitada e ainda davam conta de escapar sem nem um arranhão na dignidade me conquistou. Procurei saber mais sobre eles. Em pouco tempo, estava colecionando. Comecei a comprar a edição brasileira de X-Men pela editora Abril quando ela estava por volta do número 40. Cheguei a encontrar todos os números anteriores, nos sebos de Campo Grande. Revirei os reservatórios do Maciel e do Hamurábi, desempilhando e escavando dezenas de revistinhas empoireadas. Eram uns baciões retangulares de algo em torno de um metro de profundidade. Cheguei a ter todos os números desde o 1 até o 75. Os últimos que faltavam para a coleção, nunca vou me esquecer, foram o 18 e o 23. E por um acaso fantástico, um dia meu pai entrou em casa com o número 18 na mão! Era o último que faltava! Todos na minha casa sabiam disso. Ele estava andando pela rua e viu o X-Men 18 numa banca. E comprou para mim. Anos mais tarde foi também o meu pai que me convenceu a me livrar da minha coleção porque eu já estava velho demais para ler gibis. Mas não o culpo, quem se deixou convencer fui eu. E além disso, eu já não estava mais disposto a continuar comprando os gibis todo mês. A Abril tinha lançado outras revistas de X-Men, o formato tinha aumentado (de formatinho para formato americano), o preço tinha subido. E havia mesmo uma crise na Marvel nos Estados Unidos. Os X-Men já não eram mais os mesmos. Todo x-maníaco que viveu essa época vai concordar que houve um período muito chato nas estórias do grupo no final da década de 90.
Depois disso, tive grandes experiências com a "Mafalda", do Quino, "Calvin e Haroldo", do Bill Watterson, e o erótico "Clic", do Milo Manara. Falo mais sobre eles outro dia, porque eles merecem um post só para eles.

Novas experiências: eu e os quadrinhos em Boa Vista
Já falei sobre o “Buda” do Osamu Tezuka. Nada menos que fantástico. Estou definitivamente convencido de que Tezuka é um grande gênio, não somente dos quadrinhos, mas também da literatura e talvez até da História. Parafraseando uma jornalista que se referia à Marília Pêra no filme Central do Brasil (sim, a Marília mesmo, não a Fernandona): “Feliz do país que tem uma atriz como essa”. Feliz do Japão por ter um cartunista como esse. A série "Adolf" é de uma sensibilidade incrível. Ele consegue unir a narrativa histórica, os fatos considerados verdadeiros na historiografia, e relacionar os personagens desses acontecimentos, buscando minúcias de suas vidas pessoais, suas relações, tão complexas, tão imbricadas umas nas outras, que é difícil acreditar que não seja ficção. Tezuka nos deixa em dúvida o tempo todo sobre a veracidade de sua própria história, e mais, sobre a História toda. Não sei se ele faz isso de propósito, mas sua obra corrobora com a sugestão da pós-modernidade de que toda narrativa é tão privilegiada quanto qualquer outra narrativa. Especificamente em "Adolf", Tezuka, um autor tão capacitado na produção do humor, reserva-se o direito de ser sério, produzindo um tom respeitoso e documental, sem nunca perder o ritmo da produção do suspense.
Joe Sacco não me parece, pelo menos até agora, tão genial quanto Tezuka. Mas não tenho dúvida de que é também um clássico instantâneo, alguém que estamos fadados a continuar lendo e relendo ao longo desse século. “Palestina – Uma nação ocupada” é um livro importante, que desconstrói vários mitos construídos para justificar a criação do estado de Israel, mostrando seu anacronismo, sem resvalar para o revanchismo ou a incitação à violência. Acima de tudo, expõe a contradição de um povo que, tendo sido vítima das agruras de uma opressão militar covarde – como foi o caso do povo judeu sob o Nazismo –, pouco tempo depois, comporta-se tão covardemente quanto seus antigos opressores (embora em menor proporção e sem pretensões genocidas).
Lado a lado, "Adolf" e "Palestina", de Tezuka e Sacco, produzem um lamento comovente pela incapacidade humana de evitar a guerra. As Relações Internacionais, como ramo do conhecimento, se propõem a pensar a guerra e a paz, em como evitar uma e como prolongar a outra. Mais que os outros ramos das ciências sociais, é um campo novo, cheio de dúvidas e incertezas. Torço para que consiga, nesse século – meu tempo de sobrevida – alcançar mais compreensão entre os povos e colaborar para banir a covardia humana, pelo menos como prática estatal corriqueira.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Antique, Bombonzão e outras graças

Ontem fui pela primeira vez a uma boate aqui em Boa Vista, chamada de Antique. A festa era tributo ao Rappa, com uma banda bem razoável (lembrando que "bem razoável", pra mim, é elogio). Apesar da homenagem ao Rappa, o ponto alto da noite foi terem tocado "Could you be loved" do Bob Marley. O lugar era interessante. Meio apertado e meio escuro demais, e o atendimento meio caótico, mas nada insuportável: ou seja, bem parecido com a maioria das boates a que eu já fui. Outro ponto positivo é ser perto da orla do Rio Branco, o que dá um ar pitoresco.

Agora, a segunda parte do título do post: hoje acompanhei a Julia até o "Bombonzão", uma loja de doces e chocolates. Não bastasse o nome, mais engraçado ainda é o "subtítulo" da loja: "O mundo doce dos negócios"! Será uma bolsa de mercados e futuros de doces? Imagino a cena: "A jujuba caiu! Compra! Compra! Eu vendo paçoquinha!" Ou então é uma bolsa de valores onde as pessoas são doces, gentis e educadas... Em vez daquela balbúrdia que se vê nos pregões, todos pedem por favor, dizem obrigado e esperam a sua vez...

Outra curiosidade é a loja onde vendem Triton e Forum: "Loja de Descontos", tudo marcas famosas, mas tudo com desconto!

Alguém já viu coisa parecida?

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Onde o bizarro encontra o improvável

Quais as chances do trator passar por cima justo do cabo da internet que abastece a universidade inteira? Pois então. Vai ser bom de mira assim lá longe. O trator acertou o cabo. A universidade ficou desinternetizada. (Antes de ser desinsetizada)
E aí estou aqui no cybercafé, onde a internet agora é via satélite (antes era via rádio) e conseguiu ficar ainda mais lenta do que antes. E as pessoas ainda me pedem para postar fotos! Como é que se posta foto desse jeito?!
Sem comentários.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Fim de semana trabalhado

Depois do trauma da última segunda-feira (Ah, o café...), resolvi abrir mão dos passeios no fim de semana e me concentrei no trabalho. Nem o blog eu atualizei. Aliás, momento crucial esse em que se encontra o blog. É um vai-ou-racha de postagens. Quer dizer, ou decido levar mesmo adiante o projeto Brasil Hemisfério Norte, a despeito das dificuldades, ou agora deixo logo pra lá e vou ocupar meu tempo com formas menos virtuais de me relacionar com as pessoas. O futuro dirá.

Essa semana dou aula só na de segunda a quarta, já que às quintas meu horário é livre e essa santa sexta-feira é santa. Meu plano então é me adiantar um pouco na preparação das aulas do mês para ter tempo e tranqüilidade para me dedicar também aos projetos de artigos e capítulos de livro e ao projeto de projeto-de-doutorado.

Enfim, aqui estou no domingo à noite (embora a postagem saia só na segunda, por motivos técnicos), tomando uma cerveja pra me dar aquele sono-dos-justos daqui a pouco e escrevendo amenidades por falta de assunto melhor para postar.

Amenidades: 1) cozinhei um arroz-com-lentilha e umas almôndegas com tomate, porque estava de saco cheio de comer comida de restaurante todo dia. Comi no almoço e o repeteco na janta; 2) essa semana uma chuvona deu uma amenizada no calor. Está correndo uma brisa boa e tem pouco carapanã; 3) estou achando graça do meu estilo grandiloquente... “trauma da última segunda-feira”, “vai-ou-racha de postagens”, “O futuro dirá”, “sono-dos-justos”... Pra quê ser dramático desse jeito?

Ah, lembrei de algo que vale a pena ser postado! No almoço de sábado, eu e a Julia encontramos uma professora da UFRR no restaurante, acompanhada de uma amiga. A professora é negra e a amiga é indígena. A professora é espírita e a amiga é budista. Então o repertório de casos de preconceito era grande. As duas, muito bem humoradas, contaram suas estórias dando risada – porque o ambiente era de tolerância e ninguém ali estava subestimando a gravidade dos casos. Só para ficar com um:

A professora negra foi inscrever-se num concurso que tinha vagas que iam desde médico até faxineiro. A funcionária pergunta: - Qual é a vaga para que você quer se inscrever? Ela responde: - Psicóloga. E a funcionária, espantada: - Mas é preciso ter nível superior! A professora termina a conversa com um cala-boca à altura: - Mestrado serve? Lamentável que ainda exista esse tipo de comportamento.

Outra anedota que vale a postagem, mais cômica mas não menos trágica, dessa vez para baixar a bola da classe intelectual. Segundo a Julia, é uma tirinha do Hagar, que o professor orientador dela, o grande Estevão Rezende de Martins, entregava para todos os seus orientandos no início da orientação. Descrevo:

O amigo magrelo do Hagar vê uma oferta de emprego na tenda do Druida e entra para a entrevista.

O Druida: Você sabe ler?

O amigo magrelo do Hagar: Eu tenho pós-graduação.

O Druida: Não fuja da minha pergunta.

Encerro o meu caso.